POÉTICA À OPERÁRIA
Faltou o beijo
na hora da chegada
línguas derramadas
antes que a porta se abra
um beijo e mais nada.
Conversas atropeladas
sobejos matinais
tempestade em copo d'água
sem que seja pedido
um beijo nunca é demais
Essa mulher que se emburrece
à toa
porque lhe foge a poesia
é operária
tem a vida por um fio
bico de passarinho
rendas na braguilha
Mulher que chega do trabalho
tem suas rabujes, descrença,
predestinada a ser doméstica
avental aos pés da cama
quase tudo em nome dessa fulana
um beijo
um sorriso
se não a boca carrapicho!
Que se dane essa azia
se queime essa agonia
suspenda a conta
não pague a padaria
precisa-se de fermento
em lugar da seda
do colar
dos brincos
dos cristais
Lábios apertados
coração beira mundo
um pedido quase em prece
com fervor...
Um beijo
Um aperto
Um suspiro e seus ais...
Poema extraído de “Santos de Quarentena”/Iris Tavares
Fortaleza, Expressão, 1992.
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