domingo, 11 de setembro de 2011

POEMA - POÉTICA À OPERÁRIA


POÉTICA  À  OPERÁRIA

Faltou o beijo
na hora da chegada
línguas derramadas
antes que a porta se abra
um beijo e mais nada.

Conversas atropeladas
sobejos matinais
tempestade em copo d'água
sem que seja pedido
um beijo nunca é demais

Essa mulher que se emburrece
                   à toa
porque lhe foge a poesia
             é operária
tem a vida por um fio
bico de passarinho
rendas na braguilha

Mulher que chega do trabalho
tem suas rabujes, descrença,
predestinada a ser doméstica
avental aos pés da cama
quase tudo em nome dessa fulana
                um beijo
                um sorriso
                se não a boca carrapicho!

Que se dane essa azia
se queime essa agonia
suspenda a conta
não pague a padaria
precisa-se de fermento
em lugar da seda
               do colar
               dos brincos
               dos cristais

Lábios apertados
coração beira mundo
um pedido quase em prece
com fervor...

Um beijo
Um aperto
Um suspiro e seus ais...

Poema extraído de “Santos de Quarentena”/Iris Tavares
 Fortaleza, Expressão, 1992.

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