domingo, 23 de outubro de 2011

ELEGIAS A CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


XLIII

O amor é urgente
A cama é urgente
O beijo é urgente
E o gesto ausente
é saudade.

Extraído do livro O Domador do Verbo. Elegias a Carlos Drummond de Andrade de autoria de Íris Tavares. Expressão Gráfica Editora,1994. Fortaleza-CE.


XLIV

Há nos corpos
essa nudez desbragada
esse impudico pudor
que ficou lá fora
atrás da porta
esperando...
Quem sabe?

Extraído do livro O Domador do Verbo. Elegias a Carlos Drummond de Andrade de autoria de Íris Tavares. Expressão Gráfica Editora,1994. Fortaleza-CE.


XLV

Cai a noite
em olhos distantes
em boca que vi
balbuciar o gozo
o gemido
o grito
o infinito

Cai a noite
em peles romãs
filosofias vãs
na impressão corpórea
que esse momento reluz

Cai a noite
traduz-se o verbo
que é carne
corpo são

E o gemido desses velhos
e  novos interiores.
Somos como todos: eruditos      
e nos extasiamos no gozo
enquanto cai a noite.

 LIX

Bendigo esse sol
vapores de alcova
em manhãs de verão
lento beijo no teu corpo

sol de janeiros, fevereiros
marco de março
a estreitar nossos olhos
(quarto distante dos meus passos)
vassalos, cantos de galos...

Imagem de brilho
e flores cravadas em nossos sexos
brincamos peito em aberto
mar tangido das serras, dos seixos

Derrama-se sobre ti
água de poros, vértice da língua
que transita no meu céu
onde espuma essa paixão

Sol da manhã
deita-se à nossa cama
enrosca-nos, contorce-nos
corpo à boca
boca no corpo
tição somos

Pela janela nos atiramos
                    nenhum andar -
como anjos rebeldes que somos
voamos rumo ao sol

Janela aberta
luz do sol
o teu corpo no meu corpo
é festa !!!

Extraído do livro O Domador do Verbo. Elegias a Carlos Drummond de Andrade de autoria de Íris Tavares. Expressão Gráfica Editora,1994. Fortaleza-CE.

TEMPO BOI

João do Brasil
Brasil do cão
Brasil de todo estrangeiro!

Brasil de Nsa. Sra. de Aparecida
que nunca foi suicida
e que urgentemente
precisa nos ajudar

Brasil nosso de cada dia
agonia, vilania
e a febre que nos consome

O que fazer?
Procuremos de avenida
em avenida
retomemos Farropilha
Caldeitão
Farrapos
Insurreição
Balaiada

e nos campos do Senhor
altar de Canudos

Nem de longe
nem de perto – temos tudo, tanto e nada!
Com tantos inventos
rincões!!!

Com Deus que nos deu o seu pulmão
                    a  Amazônia - 
E nada nos custa
nem mesmo a nossa apagada
consciência de brasileiros!!!

Quando será?

Extraído do livro O Domador do Verbo. Elegias a Carlos Drummond de Andrade de autoria de Íris Tavares. Expressão Gráfica Editora,1994. Fortaleza-CE.