CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE
Juazeiro é uma cidade detentora de uma história bem recente. O que são cem anos frente ao tempo incontável do Brasil? O fato é que, Juazeiro, como o meu berço e de tantas outras pessoas, também é berço de uma tradição que lhe é bem peculiar. Conviver num ambiente entre o sagrado e o profano é como atravessar os corredores do purgatório da Divina Comédia, obra prima de Dante Alighieri. O desfile de personagens de carne e osso nas ruas de Juazeiro inflamaram minha sensibilidade de menina do interior e mais interior fica a cada dia desses 100 anos que comemoramos a memória e a luta de tantos. Dos visionários como esse estranho personagem que queria fabricar um avião de papelão para ganhar os céus.
(ao lendário proletário das ruas: João Remexe-Bucho)
João Remexe Bucho
Bucho Remexe João
sempre catando papel
Montanha de lixo
escarcéu
João pra que tanto papel?
-Pra fazer avião, avião de Papel.
Descansa João Bucho remexe
Bucho à meia luz
Remexe tripa, falta do que comer
Sossegue, aquiete-se pelos bons santos
Pressa se tem não sei
Mas o avião não espera,
Parte ligeiro, sem volta,
ganha o céu, os ares.
Não pode demorar.
Senta-se pra comer oh! João
O resto é porre
fogo, imaginação...
Enche o bucho João
Saco nas costas
Papel, papelim, papelão.
Monturo o recebe
Sociedade o repele
À luz do meio dia.
João Remexe Bucho
Fabrica seu avião
Voa como Gavião
Para bem longe daqui
Remexe Bucho João
e cola as asas desse avião
enquanto a cidade inflama
ao sol do meio dia.
Voa nesse pássaro enorme
Céus cruzeiro
Misterioso Pavão
A guiar-te a terra do imaginário
canteiro do coração!
Extraído do Livro "Santos de Quarentena", de Íris Tavares.
Fortaleza, Editora Expressão, 1992.
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