NÃO NOS PERDOARÃO
Não nos perdoarão por entoarmos hinos
E lavar com orgulho e altivez
Os corpos sacrificados dos nossos mortos
Não nos perdoarão por continuarmos sonhando
Sem assinalarmos nenhum pacto, nenhum acordo
Fomos constituídos sem redomas
Não nos perdoarão
Pelo nosso divórcio do bom gosto
Dos bons modos
Comum em nós chama-se indignação
Defendemos liberdade
Abominamos inutilidades
Passa-passa gavião
Todo mundo passa-passa
Não nos perdoarão
Por desprezarmos a passividade
Por reivindicarmos florestas
Em vez de jardins privados
Vigília, forquilha, democracia.
Passa-passa gavião
Todo mundo passa-passa
A vergonha de Rui
Pode ruir, fazer rir
Tenta o povo esmilinguir
Dentro e fora de barricada
República fracassada
por falsos sentimentos tupiniquins
Não nos perdoarão
Pelos manifestos, protestos,
Desafetos atores da luta de classe
Os nobres barões do concreto
Os neocoronéis de gravata
Botas asfaltadas
Lacaios do sistema financeiro
Não nos perdoarão
Por continuarmos sonhando.
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Extraído do livro: "À sombra dos quintais."
de: Iris Tavares
Fortaleza, Novembro, 2008.
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